Brasileiros que acolhem corredores nos EUA

Fui para os Estados Unidos uma semana antes da prova, para a cidade de Danbury, na casa dos Gonçalves uns amigos sensacionais que moram lá há mais de 10 anos. Vou abrir um parêntese e falar um pouco sobre Danbury. É uma cidadezinha encantadora, daquelas típicas da região da Nova Inglaterra (EUA). Aquelas do interior dos Estados Unidos com todas as suas nuances, pequena, confortável e com toda a infra-estrutura e segurança que um ser humano precisa para sobreviver. Mercadinhos onde você pode comprar o nosso tradicional arroz, feijão, óleo de soja, farinha de mandioca, cerveja e caninha para a tradicional caipirinha e acreditem, quase ao mesmo preço daqui. Também é possível encontrar em restaurantes o mais legítimo tutu mineiro e a mais deliciosa picanha gaúcha.

Para vocês terem uma idéia, a cidade é habitada por cerca de 100.000 habitantes e mais ou menos 15.000 são imigrantes, na grande maioria brasileiros. Tem até um programa na rádio local apresentado por um brasileiro, que toca música como samba, forró e sertaneja. Danbury é reduto de gente trabalhadora e honesta, difícil não encontrar alguém para se matar a saudade e falar de coisas da terrinha.

Na primeira vez que fui lá, encontrei um jornal em cima da mesa da cozinha dos Gonçalves que trazia uma matéria de capa sobre corrida. A foto que ilustrava essa matéria era de um corredor com um calção dos Estados Unidos. Mas acreditem, esse corredor era brasileiro e eu conhecia aquele sujeito. Seu nome era Antônio, ou simplesmente Toninho para os amigos. Sujeito bom, honesto, trabalhador, um corredor que anda forte. Fomos colegas de trabalho em São Paulo e corríamos pela equipe do trabalho. Éramos bons amigos, mas perdemos o contato e por coincidência fomos nos encontrar lá, nos Estados Unidos.

Depois de vê-lo no jornal, nos encontramos pessoalmente. Ele é amigo dos Gonçalves (lá quase todos os brasileiros são conhecidos). O nosso encontro foi uma festa. Depois de muita conversa ele me contou que estruturou a sua vida por lá, comprou uma casa, arranjou um emprego, que ainda corria e tinha uma família linda. A esposa do Toninho também corre e o filho, que é americano, com bastante certeza também correrá.

Inúmeros corredores, de elite aqui no Brasil, fazem base na casa do Toninho em época de preparação para grandes maratonas, como Chicago, Nova York, Boston entre outras. Os atletas vão para lá e ficam uns três meses treinando. O bom é que nos Estados Unidos há corridas todos os finais de semana. Sempre é possível pegar uma graninha nessas provas. É assim que o Toninho mata a saudade dos amigos antigos e ao mesmo tempo dá uma força danada para os corredores, que de outra forma não teriam a mínima condição de participarem dessas provas em nível competitivo, por falta de patrocínio e apoio para esses treinos específicos. Da mesma forma acontece comigo, pois sempre tenho a acolhida mais do que amigável dos Gonçalves, uma ou duas vezes por ano aporto por lá para quebrar-lhes a rotina.

Nesta mesma ocasião tive a oportunidade de reencontrar o Zé do Óleo, sujeito pacato, dos bons, daquele tipo que você vê uma vez, nunca esquece e sabe que ele nunca fará alguma coisa para prejudicar alguém. O Zé era um sujeito singular nas maratonas do Brasil. O apelido surgiu dos “óleos” milagrosos que o Zé comercializava, à base de cânfora e cheirinho agradável, que psicologicamente ajudavam o povo a andar mais rápido. Eu sinceramente nunca comprei, pois não acreditava nesse lance de que passar alguma coisa no corpo e aumentaria o meu rendimento.

Depois de Danbury fui para a cidade de Framinghan, próximo de Boston, outro reduto de brasileiros, fiquei na casa do Valdeci, ex-maratonista que vive por lá. Também tive uma acolhida sensacional na casa deles que ficava a 10 minutos de carro da largada da Maratona de Boston.

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